Esse nome sugestivo levou 42 pessoas do grupo Calangos & Caliandras para uma trilha no domingo, no cerrado brasiliense. Foram 13.36 km marcados no WikiLoc de um dos companheiros de caminhada. A dificuldade, moderada, muito chão batido mas também algumas descidas e subidas para acessar os rincões de água como os Tonéis, Mesa JK e Riachão. Três em um, melhor dizendo!
Além de andar e apreciar o cerrado e observar como sua vegetação se altera ao longo do percurso, resolvi entender de onde vem o nome Tonéis, participar do lanche comunitário na Mesa JK (que privilégio!) e tomar banho no Riachão (ultra refrescante).
Desvendar a razão do nome tonéis pode não ser complicado, até porque são dois reservatórios de uns 5m de diâmetro cheios de água. Um deles com água parada e suja e outro com água corrente, que os trilheiros até usam para tomar banho. Esses tanques ficam no alto do morro e de lá se avista o horizonte (foto de Hélio Campos).
A Trilha dos Tonéis, como é conhecida, está dentro da Área de Relevante Interesse Ecológico Granja do Ipê (ARIE – Granja do Ipê), administrada pelo IBRAM (Instituto Brasília Ambiental), e o ponto de referência é a Escola Classe Ipê. Mas por que foram construídos ali, naquele local, difícil saber. Ainda estou fazendo busca por registros. Por ora, me basta a explicação de uma das caminhantes:
Era um antigo projeto do GDF para incentivar a psicicultura. Foi abandonado. Por isso só tem o que foi desativado e o que está todo detonado. E isso porque eram três.
Dos Tonéis à Mesa JK, mais chão e a leitura de muitas placas criativas, umas com desenho infantis. Algumas em bom estado de conservação outras já escondidas pelo mato. As 54 placas da ARIE foram elaboradas por estudantes da Escola Classe Ipê, em 2017, dentro de um projeto do Ibram para preservação do espaço e evitar queimadas. Ler as placas e estar ali fazendo lanche comunitário no mesmo espaço que o presidente Juscelino Kubitschek utilizava durante a construção de Brasília é estar integrada ao patrimônio cultural do Distrito Federal! Reportagem do DFTV da Rede Globo mostra o projeto e o trabalho desenvolvido por estudantes. O vídeo é de setembro de 2017.
Esse papelão, ali, nessa foto ao lado, sobre as plantas, é o protótipo do projeto Janelas para o Cerrado: instante de contemplação que PC Melo e eu levamos para a trilha naquele dia. Janelas tem o objetivo de incentivar os caminhantes a apreciar o cerrado, identificando os aspectos da flora, a geografia do caminho e a presença de paisagens que saltam aos olhos e muitas vezes à alma também. Afinal, a natureza nos presta o serviço de contemplação e de bem-estar apenas por estar e ser o que é. Nos espaços que valorizem a beleza contemplativa do cerrado pensamos em instalar os totens, uns pouco ao longo de trilhas específicas.
O nosso projeto Janelas para o Cerrado produziu efeitos de alegria e bem-estar. O protótipo de papelão voltou para casa na mala do carro do PC: nada se deixa ou se leva de uma trilha ou caminhada, regra de ouro de preservacionsitas e conservacionistas. No percurso, tiramos fotos e convidamos os colegas da trilha a utilizarem a janela para ver como funcionava.
Me senti satisfeita e também confiante de que podemos levar o projeto adiante. Entre uma foto e outra, principalmente, no “chuveirinho do cerrado” e de uma caliandra (“pompom do cerrado”), chegamos ao Riachão, terceira e última parada da trilha. Lá nos refrescamos com água gelada. Revigorados, caminhamos de volta ao ponto de partida da trilha – a Escola Classe.
O projeto é uma idealização de Mônica Prado e PC Melo e se constitui de totens em forma de janela com texto lírico-poético sobre o que se vê durante a caminhada. Ainda temos um longo caminho até o projeto obter autorização para sua existência física. O protótipo esquemático portátil foi feito de papelão para proporcionar uma visão e uma narrativa para as pessoas do que é o projeto Janelas para o Cerrado: instante de contemplação.